domingo, setembro 11, 2005

Fogo

Os meus olhos fixam o teclado, os meus ouvidos enchem-se de música nostálgica, os meus olhos transbordam lágrimas e o meu coração aperta e aperta numa dor cruciante. Tento encontrar a resposta, tento vislumbrar o caminho, tento sair do abismo para onde tudo se precipita, mas caiu, inevitavel e irrevogavelmente para dentro da dor e do turbilhão de emoções refreadas durante demasiado tempo para serem agora contidas, de emoções confusas, desesperadas, desnorteadas. Tudo se precipita para o buraco negro à procura duma saída, dum escape, duma fuga de mim própria. À procura duma maneira de não sofrer, para não fugir... para evitar dizer adeus.
Mas o instinto primário de sobrevivência, o mesmo que nos leva a retirar a mão do fogo quando sentimos a pele a aquecer, a queimar, a estalar e a sangrar, leva-me igualmente a querer afastar-me da dor, a retirar levar a minha alma para longe, tal como retiro a mão do fogo para não me queimar.
Resisto.
Deixo a dor percorrer-me, queimar-me, consumir-me. Deixo a minha alma queimar-se, estalar-se e sangrar tal como a minha mão sangra em contacto com o fogo. O fogo que me atrai e repele mutuamente. O fogo que me absorve, que me consume, que me trona poderosa! O fogo que me devora, que implora por mim, que se alimenta de mim e do qual eu retiro o calor para sobreviver ao mais rigoroso inverno, deitada sozinha num quarto escuro a pensar.
Quero que pare.
Quero fugir.
Mas não posso.
Por isso fico.
E lentamente vou sendo queimada e consumida pelo fogo do qual me alimento e devoro.